Creio que me aceitar foi um dos primeiros grandes desafios, já que cresci em um ambiente familiar preconceituoso. Contar para minha mãe, quando eu tinha 21 anos, também foi difícil. Ela demorou a aceitar a situação, perguntou se “ser gay” era “ser passivo”, expressou sua preocupação com relação a doenças e promiscuidade e o medo de eu permanecer sozinho. Para meu pai nunca contei, mas tenho certeza que ele sabia. Ele faleceu em 2007 sem que tenhamos conversado sobre o assunto.
A partir do momento que me senti mais seguro como pessoa, pude definir outros rumos para minha vida, escolher coisas que eu realmente queria fazer, namorar, viajar mais, fazer outro curso de graduação (psicologia), perceber que eu podia ser diferente e fazer diferente do que foi planejado pelos meus pais, ou seja, crescer e amadurecer mais.
(With regards to coming out) Para minha mãe, aos 21 anos, quando estava sofrendo por uma paixão não correspondida. Depois, meu círculo de amigos foi mudando, fiz amigos gays (boa parte conheci pela internet), e também me senti mais a vontade em misturar os grupos nos meus aniversários (colegas de colégio, conhecidos de igreja, família e amigos gays) ou apresentar namorados. Mesmo sem eu dizer expressamente, as pessoas foram percebendo. Com a família não foi muito diferente, pois minha mãe contou para uma tia, que contou para outros parentes e creio que todos saibam atualmente, apesar de não ter sido uma iniciativa minha. No trabalho, alguns colegas sabem, por eu ter contado e outros por que também perceberam. Não são todas as pessoas que fazem parte da minha vida que sabem, pelo menos, não abertamente.
(In Brasilia) A comunidade gay é muito variada. Há cafés, bares e boates Gays, mas não muitos, além de festas que são realizadas eventualmente. Também existem lugares que as pessoas se encontram para sexo imediato, como certos estacionamentos no parque da cidade, saunas, cinemas pornô. Além disso, aplicativos nos celulares ou sites na internet colocam pessoas com gostos e perfis parecidos em contato. Alguns só gostam de ir a lugares gays, outros não vão de forma alguma nesses lugares, mas se sentem à vontade em ir a locais “alternativos”, ou ainda existem aqueles que não se assumem para praticamente ninguém e somente frequentam casa de amigos ou ambientes considerados predominantemente heterossexuais.
(To my younger self) Diria para não dar tanta importância para o que as outras pessoas pensam, que eu consiguirei fazer um bom grupo de amigos e conhecerei pessoas fantásticas, gays e heterossexuais, que irão me perceber como uma pessoa completa, enxergar meu caráter e minhas ações, que gostarão de mim com minhas qualidades e defeitos e que ser gay não é um desses defeitos. Que eu me veja bonito por dentro e por fora, que poderei ser o que eu quiser ser e não preciso agradar a todo mundo.”
In English:
“Being gay is one aspect of my life, not the principal, nor the least important. It is part of who I am, but does not define me, because my life is much broader than that. But in a country like Brazil, with many cases of homophobia and violence related to it, it also means having restrictions to show affection in public and not always being able to present a companion to part of the family or work colleagues. It is “not said” sometimes in a social gap in certain environments and locations.
I believe that accepting myself was one of the first major challenges, since I grew up in a family environment very prejudiced. Telling my mother when I was 21, it was also difficult. She was slow to accept the situation, and asked if “being gay” was “being botton,” and expressed her concern about disease and the fear of promiscuity and that I would remain alone. To my father I never told, but I’m sure he knew. He died in 2007 without us having talked about it.
From the moment that I felt safer as a person, I could define other directions for my life, choose things I really wanted to do, date, travel more, make another undergraduate degree (psychology), realize that I could be different and do different things than from what was planned by my parents, that is, I could grow and mature more.
(With regards to coming out) To my mother, at 21, when I was suffering by unrequited passion. Then my circle of friends changed, I made gay friends (much met through the Internet), and I also felt more at ease in mixing the groups in my birthdays (schoolmates, known church, family and gay friends) or present boyfriends. Even without me spelling it out, people were noticing. With family it was not very different because my mother told an aunt who told other relatives and I believe that they all currently know, although it was not by my initiative. At work, some colleagues know, for I have told others and others have also realized. Not all people who are part of my life know, at least not openly.
The gay community (in Brasilia) is diverse. There are cafes, bars and Gay clubs, but not many, and parties that are held eventually. There are also places that people meet for immediate sex, as certain parking lots in the city park, saunas, porn cinemas. Additionally, apps on mobile or internet sites put people with similar tastes and profiles in touch. Some just like to go to gay places, others do not go at all to these places, but feel comfortable in going to “alternative” places, or there are still those who are not out to just anyone and only attend a friend’s house or social places considered predominantly heterosexual.
(To my younger self) I would say not to give much importance to what other people think, that I will have a good group of friends and meet fantastic people, gay and straight, who will see me as a whole person, see my character and my actions, they will like me with my qualities and defects and that being gay is not one of those defects. That I can see myself beautiful inside and out, I can be what I want to be and need not please everyone.”